A tragédia ocorrida na boate Kiss, em Santa Maria/RS, revelou o desconhecimento das pessoas a respeito dos ambientes em que trabalham e circulam. Centenas delas se divertiam em um local que se mostrou uma verdadeira armadilha em meio à tragédia.

Todos os dias as pessoas circulam por diversos espaços, conhecidos ou não, sem analisar os riscos a que estão expostas. Logicamente não se pode confundir uma neurose por prevenção, que venha a imobilizar suas ações, com atenção e preocupação. Deve-se, sim, ficar atento às armadilhas.

Esta atenção à prevenção deveria começar na infância. Ao deixar o filho na escola, a maioria dos pais acredita que o agora “aluno”, sob responsabilidade legal da instituição de ensino, esteja em um ambiente seguro, por mais carente que seja, longe de diversos tipos de violência.
Infelizmente muitas pessoas acreditam que os acidentes, inclusive os de trabalho, ocorrem devido à fatalidade, destino ou até mesmo por vontade divina. Essas ideias já são semeadas na cultura há tempos, com o objetivo de evitar contestações e julgamentos: “era para acontecer!”, “estava escrito!”, “era o destino dele!” e tantas outras justificativas acabam se firmando como o verdadeiro motivo do fato.

Risco

No entanto, dificilmente um pensamento desses ocorre quando uma criança morre na escola, independentemente das causas do acidente. Não se deve imaginar que ninguém deve ser responsabilizado e que isto tenha sido uma fatalidade. Porém, em quase 18% dos acidentes analisados neste artigo, os entrevistados responsabilizaram o fatalismo pela ocorrência.

Segundo Izabel Cristina Ferreira Borsoi, “através do fatalismo, as pessoas tendem a dar sentido à inevitabilidade de determinadas condições que não oferecem alternativa à vida que não o submetimento ao destino”.

Ou seja, as pessoas se conformam com esses acidentes, pois acreditam que não podiam ser evitados, mas é justamente o contrário: a maioria poderia, sim, ter sido evitada. O que normalmente se deixa de lado são os motivos que levaram a esse evento indesejado e previsível em grande parte das vezes.

Frequentemente os riscos encontrados em uma instituição de ensino são subestimados por pais, alunos e pelos próprios responsáveis pela escola, pois eles acreditam que os acidentes só ocorrem nas outras escolas e principalmente na indústria. Entretanto, é importante salientar que a própria criança é um risco, tanto para os colegas como para si mesma.

Renata Dejtiar Waksman et al. analisa as faixas etárias e suas principais características envolvendo riscos: de três a quatro anos, muitas vezes ela não aprende com experiências perigosas, como pequenas quedas, pois é o resultado de sua incapacidade de generalizar experiências próprias. Apesar disso, é o momento para ensinar sobre segurança; de cinco a nove anos, as grandes transformações – a criança se torna destemida, realizando atividades sem considerar todas as possibilidades, inclusive a de machucar; de 10 a 14 anos, o mundo dos adultos se torna tedioso e, portanto, há a proximidade com os grupos de amigos e novas descobertas. O sucesso é o desejo, enquanto a derrota é arrasadora.

Assim, conclui-se que a criança e o adolescente possuem um padrão de referência comportamental que não deve ser colocado como regra geral, pois outros fatores externos como cultura, classe social, família e região geográfica podem contribuir para modificá-lo radicalmente.

Artigo de Luiz Mauricio Wendel Prado, Professor universitário, mestre em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, graduado em Administração de Empresas e técnico de Segurança do Trabalho; Rosmeire Paez Maia, Enfermeira, coordenadora de grupo de Enfermagem, professora de cursos técnicos de Enfermagem e Segurança do Trabalho e especialista em Administração Hospitalar; Gislaine Dias Siqueira Ulbrich, Acadêmica de Enfermagem e técnica de Enfermagem e Silvia Regina Benka, Enfermeira e especialista em Administração Hospitalar.

Fonte: Revista Proteção

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