Aquecimento, acidificação e falta de oxigênio ameaçam os mares, mas são ignorados.

RIO – À margem das negociações climáticas e fora dos maiores debates internacionais, está um ecossistema que cobre 71% do planeta e serve de lar para 80% dos seres vivos. Os oceanos são o tema de um relatório, idealizado por seis instituições e divulgado ontem na internet. Enraizadas em mais de 20 países, elas tentam levar sua causa, a proteção aos mares, para os fóruns de Durban.

Trata-se, no entanto, de uma bandeira difícil de hastear. Diretor do Instituto Scripps de Oceanografia, da Universidade da Califórnia em San Diego, Tony Haymet é lacônico: nenhum político é eleito para representar o oceano. Os estresses a que eles são submetidos, portanto, estão longe de serem tratados como prioridades. São três os maiores perigos para o oceano, todos já em franco andamento: sua acidificação, aquecimento e a perda de oxigênio. E todos têm origem nos gases-estufa.

Em dois séculos, desde a Revolução Industrial, cerca de 30% do CO2 emitido pelo homem foi absorvido no mar. Com isso, seu pH, hoje, é o menor dos últimos 60 milhões de anos. O oceano nunca foi tão ácido.

Maior ONG do mundo dedicada ao mar, a Oceana fez uma análise de que países serão mais impactados pela acidificação daquele ecossistema.

— São os que mais perderão acesso a frutos do mar, que terão maior prejuízo em atividades turísticas que ali acontecem — explica Jacqueline Savitz, diretora de campanhas e cientista-sênior da organização. — No topo da lista há países desenvolvidos, como os Estados Unidos, Japão e Reino Unido. Estes são alguns dos maiores emissores de CO2. Mas há, também, pequenas nações insulares entre as maiores prejudicadas.

Estados polinésios também enfrentam outro problema vindo do mar: o aumento de seu nível, provocado pelo derretimento das geleiras. A origem dessa mazela é, como a anterior, as emissões de CO2.

— Vejo muitas nações, que estão abaixo do nível do mar ou são de baixa elevação, forçadas a tomar medidas — destaca Haymet. — O presidente das Maldivas já está preocupado com isso. E o embaixador de Granada também. Mas há também regiões em risco em países que, teoricamente, estariam seguros. A Flórida, por exemplo, no caso dos EUA.

As geleiras derretem porque o mundo está mais quente — consequência que, claro, também se reflete nos oceanos. Nos últimos cem anos, a superfície dos mares já aqueceu, em média, 0,7 graus Celsius. E a previsão é que este índice aumente cerca de 3 graus em algumas regiões até o fim do século.

Num oceano mais aquecido, haverá menos mistura entre águas profundas, ricas em nutrientes, com as da superfície, pobres nestas substâncias. A falta do cruzamento afetará particularmente as zonas tropicais, e terá consequências negativas na produtividade do mar.

— As indústrias de combustíveis fósseis, dependentes de carvão, petróleo e gás e emissoras de CO2, impedem os países de priorizar os oceanos — acusa Jacqueline. — Por causa delas, atividades econômicas baseadas no mar, como pesca, aquicultura e turismo e similares serão prejudicadas. A não ser, claro, que eles passem a liberar menos carbono na atmosfera.

Muitos países conduzem esforços locais para trocar suas fontes de energia — sai de campo o petróleo e entram alternativas limpas, como hidroelétricas e a indústria eólica. Para Jacqueline, na Europa, Reino Unido e Dinamarca estão à frente dos Estados dispostos a reduzir sua dependência do carbono. Perceberam um filão que, para os ambientalistas, ainda não é apreciado como deveria por empresas e autoridades.

— A energia limpa é a solução que nos livrará dos combustíveis fósseis — ressalta. — Quem a adotar primeiro será beneficiado economicamente, visto que poderá exportar essa tecnologia para o resto do mundo.

As temperaturas mais elevadas — e a menor mistura de nutrientes — deixariam o oceano mais estratificado. O suprimento de oxigênio para baixo da superfície seria afetado. Com a menor concentração dessa substância, muitas espécies teriam sua existência ameaçada. E outros organismos, mais tolerantes à carência desse gás (micróbios, particularmente), se multiplicariam com maior facilidade, alterando o equilíbrio da cadeia alimentar.

Estima-se que, no próximo século, o estoque global de oxigênio nos mares será reduzido de 1 a 7%. Mas, segundo o relatório divulgado ontem, há “incertezas consideráveis” em relação à escala e as localidades que serão mais acometidas pela carência de oxigênio, assim como o impacto no meio ambiente.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/relatorio-internacional-denuncia-ameacas-aos-oceanos-3343778#ixzz0aaVUnabv
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Fonte: O Globo- Renato Grandelle

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